
CONTABILIDADE
SOCIAL.
CESAR EDUARDO STEVENS KROETZ (cesark@unijui.tche.br)*
Resumo
Urge
o desenvolvimento de pesquisas na área da Contabilidade
Social, pois esta especialização da ciência
contábil surge com o propósito de contribuir,
efetivamente, para a prosperidade das entidades e das
nações, transformando o sistema de informações
contábeis em um conjunto mais amplo, onde apresentam-se
não somente demonstrações financeiro-econômicas,
mas também aquelas de caráter social e ambiental,
imprescindíveis para a análise, o controle,
a avaliação e a tomada de decisão
das e nas entidades, no contexto mundial globalizado e
de constante mutação. Tendo como principal
instrumento de demonstração o Balanço
Social.
SUMÁRIO
RELEVÂNCIA DO TEMA
Objetivos do trabalho
Fases do desenvolvimento
1.A
CIÊNCIA CONTÁBIL E SUAS ESPECIALIZAÇÕES
Conceito de Contabilidade
A Contabilidade e a Teoria da Economicidade
As especializações da Contabilidade
2.A
CONTABILIDADE SOCIAL
Conceito
Tendências
Demonstrações específicas
3.O
BALANÇO SOCIAL
Histórico
Conceito
Relevância da demonstração
4.TENDÊNCIA
DAS INFORMAÇÕES CONTÁBEIS
Qualidade das informações contábeis
EXPRESSÕES FINAIS
BIBLIOGRAFIA
RELEVÂNCIA DO TEMA
Aqueles
que destinarem alguns minutos do seu tempo para ouvir
o que clama a sociedade, perceberão que o seres
humanos estão cansados de guerras, de serem tratados
como máquinas - a serviço quase que exclusivo
do capital e, também, que estão exaustos,
de presenciar as injustiças, a destruição
ambiental e de viver sem perspectivas.
O caminho do futuro passa pelo desejo da paz, da harmonia
e, cada vez mais, da ligação entre o intelecto
e o espírito - o homem como centro e agente (meio
e fim) preparador de um novo mundo.
A construção deste caminho requer a integração
entre homem/tecnologia/capital, e neste sentido, ambas
as intenções devem convergir para o mesmo
objetivo a preservação da aldeia
global e de seus habitantes.
Este cenário presente, faz com que as organizações
procurem adaptar-se e/ou moldar-se as novas tendências,
pois são as atitudes administrativas as grandes
propulsoras das mudanças sociais e ambientais,
favoráveis ou desfavoráveis. Ou como, nos
ensina Lopes de Sá a prosperidade da sociedade
depende da prosperidade das células sociais,
ou seja, das entidades que atuam e formam a sociedade.
Na realidade, a irresponsabilidade, a falta de visão
estratégica e as decisões administrativas
inconseqüentes, fazem parte do dia-a-dia. Os empresários
parecem não perceber que existe, por enquanto,
um só planeta, e que o homem encontra-se aqui enclausurado
e aos poucos destrói seu único refúgio.
Essa premissa só se perpetua, porque a humanidade
é constituída, na sua grande maioria, por
seres normóticos, pessoas bem adaptadas, ajustadas,
que utilizam menos de 5% de sua capacidade mental e que
não estão preocupadas em desenvolver sua
criatividade; literalmente, acomodadas e/ou passivas.
Porém, disto resultam estudos e correntes que surgem
com o intuito de defender a dignidade humana e o ecossistema.
Como reflexo, nascem novas organizações
que têm em sua filosofia e prática, o desenvolvimento
da responsabilidade social e de atitudes ecologicamente
corretas.
Como produto surgem proposições de gerenciamento
e de controle das ações administrativas,
tendo como exemplo o sistema ISO (International Organization
for Standardization) - uma federação mundial
de entidades nacionais de normalização,
com o propósito de certificar as organizações
que atendem aos programas especificamente preparados,
tais como: a ISO 14000 centrada na Gestão Ambiental,
a ISO 18000 (em preparação), que provavelmente
terá como tema central a excelência humana,
entre outras.
Além disso, nos EUA e na Inglaterra, inicia-se
a aplicação da SA8000 (Social Accountability),
uma espécie de padrão mundial na área
de responsabilidade social. Já, na Alemanha (precursora
dos chamados rótulos ecológicos) existe
o selo Anjo Azul, uma espécie de certificação
ambiental para produtos ecologicamente identificáveis.
Os programas de certificação configuram-se
em poderosos mecanismos de educação, de
controle e de informação ao consumidor,
que utiliza as forças indutoras da oferta para
exigir produtos mais saudáveis e ecologicamente
corretos. Cabendo à entidade que desejar permanecer
no mercado se adaptar as novas realidades e tendências.
Objetivo
do trabalho
Observando
os pressupostos anteriores e tendo a perspectiva de que
o século XXI apresente-se marcado pela descoberta
do ser humano em sua plenitude e na expectativa de que
as organizações alterem sua missão,
filosofias, valores, voltando-se para um modelo auto-ajustável
/flexível, em constante interação
com o meio em que atuam. Este trabalho objetiva discutir
a participação e identificar possíveis
contribuições da Ciência Contábil
à este processo, especificamente, por meio do desenvolvimento
da Contabilidade Social.
Fases
do desenvolvimento
Para
desenvolver o tema proposto e alcançar o objetivo
anteriormente descrito, o presente trabalho encontra-se
ordenado a partir do entendimento do conceito de Contabilidade,
de suas especializações e correlações.
Na seqüência, é discutido o que vem
a ser a denominada Contabilidade Social, vista como uma
especialização da ciência contábil,
que busca estudar as relações da riqueza
organizacional com os ambientes que nela interferem e
recebem influência da mesma.
A terceira parte, estuda o Balanço Social, sendo
considerado como uma demonstração contábil
originária da Contabilidade Social e para tal,
apresenta-se alguns relatos históricos e conceitos,
a relevância de tal demonstração e
a proposição de tópicos metodológicos
para sua apresentação.
Com base nos tópicos desenvolvidos, chega-se a
concretização de algumas tendências
reformuladoras do Sistema de Informação
Contábil, culminado com a apresentação
de alguns pontos marcantes deste estudo.
1.A
CIÊNCIA CONTÁBIL E SUAS ESPECIALIZAÇÕES
A
Contabilidade é uma ciência social que estuda
a riqueza patrimonial individualizada, sob os aspectos
quantitativos e qualitativos, tendo entre seus objetivos
a geração de informações e
a explicação dos fenômenos patrimoniais,
possibilitando o controle, o planejamento e a tomada de
decisão, no enfoque passado/presente/futuro. Tudo
isso, servindo aos mais diversos usuários, para
que eles possam, por meio de seus atos buscarem a prosperidade
da entidade e da sociedade.
Esse conceito, não restringe à ação
da Contabilidade na medida em que discorre sobre a necessidade
de suprir as expectativas informativas dos usuários
a ela ligados. Porém, cabe observar a correlação
existente entre tal ciência e outras formas de conhecimento,
ou seja, existe uma relação intencional
entre os estudos contábeis e as demais áreas
do conhecimento.
Neste sentido, a visão da transdisciplinariedade
é fundamental, sendo a mesma entendida como o encontro
entre as ciências e destas com a filosofia, com
a arte e com o espírito, buscando o desenvolvimento
do pensar holístico e do agir localizado.
O conceito reforça, entretanto, que o objeto da
Contabilidade é a riqueza individualizada e somente
esta. Sem embargo, a isso se refere Lopes de Sá
(LOPES DE SÁ, Antônio. Teoria da Contabilidade.
São Paulo: Atlas, 1998, pp. 266-267.) quando
descreve que não se pode discutir o óbvio,
de que a origem dos dados contábeis é a
da movimentação de uma riqueza celular social,
mas, quanto ao destino do informe, também é
indubitável que serve ele ao interesse geral, com
validade social, pois todos somos partes de um complexo
e continua o valoroso intelectual, o que podemos,
sim, em Contabilidade realizar, é um estudo das
relações ambientais do patrimônio
das empresas e instituições para que possam
ser gerados informes úteis que por sua vez produzam
um Balanço com visões do social.
Concretamente, a Contabilidade não pode ficar presa
a divulgação de demonstrações
eminentemente financeiras e essa afirmação
comprova-se no estudo das doutrinas e das teorias contábeis.
A
Contabilidade e a Teoria da Economicidade
Dentre
as várias teorias oriundas e aplicáveis
aos estudos contábeis, este trabalho procura apresentar
a Teoria da Economicidade, teoria essa derivada da Teoria
das Funções Sistemáticas do Patrimônio
Aziendal, por entender-se ser este conjunto de axiomas,
princípios, conceitos, hipóteses e definições,
necessários para o desenvolvimento do presente
estudo.
De acordo com Lopes de Sá (LOPES
DE SÁ, Antônio. Op. cit, 1998, p. 257.), a
Economicidade é a capacidade de vitalidade
patrimonial que garante a sobrevivência da riqueza
e que traduz a participação desta, interna
e externamente ao mundo aziendal
A premissa anterior relata que a Contabilidade, consubstanciada
na Teoria da Economicidade, deve procurar traduzir a participação
da riqueza individualizada tanto ao nível interno,
quanto ao nível externo, pois a interdependência
é indissociável.
Para reforçar, apresenta-se a figura 1, onde visualiza-se
a economicidade (como objeto de estudos) e suas derivações
(óticas: essencial interna e ambiental
externa).
Figura 1.

Assim,
a economicidade analisada sob o prisma interno
essencial -, abrange os assuntos relativos à vitalidade
e à sobrevivência, demonstrando a participação
da riqueza no sistema endógeno da organização.
Se examinada, todavia, em face dos fatores ambientais,
a economicidade passa a preocupar-se com a circulação
da riqueza, em seus fluxos e refluxos para o ambiente
externo, ou seja, o que ela influência e o que recebe
de influências do mundo exterior.
Porém, segundo Lopes de Sá (LOPES
DE SÁ, Antônio. Op. cit. 1998, p.259.), contabilmente,
o que se buscará, sempre, será conhecer
a eficácia da riqueza aziendal, ainda que espelhada
no ambiente que a cerca, ainda que refletida para objetivos
diversos. Ou seja, a Contabilidade neste enfoque
específico procura demonstrar a mutação
da riqueza individualizada com base nos fluxos e refluxos
oriundos dos vários continentes (ambientes internos
e externos), entretanto, não estuda a origem exógena
dos fenômenos.
Exemplificando têm-se: 1) a Contabilidade estuda
os reflexos de um blecaute no patrimônio organizacional,
sem todavia, estudar a origem de tal fato sendo
este, objeto de estudo de outra área do conhecimento;
2) a Contabilidade apresenta a riqueza gerada pela entidade
e sua forma de aplicação, entretanto, cabe
aos mais diversos usuários estudarem a relevância
e aplicação de tal informe.
As
especializações da Contabilidade
A
Contabilidade, assim como as outras ciências, pode
ser estuda sob enfoques particulares, o que neste trabalho
denomina-se de especializações.
Conceitualmente, poder-se-ia entender o especialista como
uma pessoa que sabe quase tudo sobre quase nada, se orgulha
pela sua unilateralidade de visão e que perdeu,
muitas vezes, o poder da inteiresa. Entretanto, o sentido
que se quer denotar é justamente o inverso.
Para facilitar o estudo contábil, ramifica-se este
conjunto em partes menores, a fim de compreender melhor
sua organização, mas sem jamais esquecer
a visão global. Cumpre, transcender o enfoque da
especialização, pensando holísticamente
e agindo localmente.
A figura 2 demonstra que a ciência contábil
ramifica-se em uma gama de especializações
(Contabilidade Gerencial, Agrícola, Pública,
Comercial etc.), sendo que cada uma delas estuda o patrimônio
sob uma ótica particular, conforme especifica sua
identificação. A determinante disso são
as diversas atividades desenvolvidas pelas organizações,
as políticas adotadas, os interesses dos usuários,
as normas governamentais, dentre outras.
Figura
2

Fonte:
KROETZ, Cesar Eduardo S. (45:1998).
No
afã de manter a Contabilidade atualizada e atenta
aos interesses dos seus usuários, volta-se a atenção
para uma nova especialidade, a Contabilidade
Social, que pode ser vista como uma parte da ciência
contábil que procura estudar as influências
das variações patrimoniais não apenas
nas entidades, mas também na sociedade e no meio-ambiente.
A efetivação e êxito dessa especialidade
requer que a organização adote como forma
de gerir, uma gestão eminentemente participativa,
envolvente e comprometida com todas as camadas que formam
o sistema social e organizacional, tendo como instrumento
de controle e prevenção a Auditoria Social
e demonstrando as mutações quantitativas
e qualitativas por meio do Balanço Social, que
tem a função de complementar as demonstrações
já, tradicionalmente, extraídas dos registros
contábeis.
2.
A CONTABILIDADE SOCIAL
De
acordo com o exposto, é possível compreender
a entidade como uma relação entre pessoas,
produção e plenitude. Ou seja, contemporaneamente
são organismos empreendedores, nos quais o ser
humano é capaz de desenvolver sua vocação.
E, é nesta entidade, por meio da mutação
da riqueza individualizada, que ocorre a interligação
com o ambiente externo, influenciando-o diretamente e,
também, recebendo influências provenientes
do mundo exterior. Como assegura Lopes de Sá (LOPES
DE SÁ, Antônio. Op. cit. 1998, p.262.) há
uma responsabilidade social inequívoca entre a
empresa e a sociedade.
Na realidade, em termos da Contabilidade Social busca-se
a verdade (impactos) sobre a circulação
da riqueza entre a entidade e a sociedade causa
e efeito.
Segundo Silva et alli (SILVA, João Pina
da, et alli.. Novos Desenvolvimentos da Contabilidade:
A Contabilidade Social. Revista: Revisores & Empresas.
Lisboa – Portugal: a.1, n. 1, abr/jun. 1998, p.31.)
medir esses impactos é uma tarefa que apresenta
inúmeros problemas metodológicos difíceis
de ultrapassar. Por isso, existe grande interesse em que
o desenvolvimento da informação social não
se processe de uma forma anárquica, em que cada
empresa informe do que lhe convém, utilizando critérios
e medidas particulares variáveis e discutíveis.
Neste contexto, surge a Contabilidade com sua cultura
e tecnologia oferecendo, conjuntamente, aos profissionais
da área, um instrumental capaz de gerar, demonstrar
e analisar a responsabilidade social e ecológica
das entidades.
Por isso, além da proposta de uma reflexão
sobre a responsabilidade social do Contador, exercida
pela Contabilidade, deve-se mostrar o alcance atual dessa
ciência, chamando atenção para um
vasto campo ainda a ser explorado, especificamente, na
área social.
Ramanathn [1976] (apud Silva et alli (SILVA,
João Pina da, et alli. Op.cit. p.31.) ), afirma
que na década de setenta conceituava-se Contabilidade
Social como (...) um processo de seleção
de variáveis, medidas e procedimentos para avaliar
a atividade social da empresa com o objetivo de produzir
informação relevante e divulgá-la
aos públicos interessados, internos e externos.
E acrescenta, que mais recentemente, Gray et al.
(1996) a definem como (...) um processo de divulgação,
a grupos particulares e à sociedade em geral, dos
impactos sociais e ambientais resultantes da atividade
econômica das organizações, que vão
para além da informação econômica
e financeira que é fornecida aos detentores do
seu capital.
Mas, esse conceito de Contabilidade Social permanece ainda
muito vago ou pouco aplicável. Não é
surpreendente, portanto, que poucas organizações
tenham arriscado a publicar um Balanço Social que
contenha em seu espírito uma dupla intenção:
1) de prestar conta das ações benéficas
e maléficas originadas pela entidade no meio em
que atua; e, a segunda, de 2) prever e controlar as ações
que poderão ter conseqüência sobre a
sociedade e o meio ambiente.
Conclusivamente, de acordo com Silva et alli (SILVA,
João Pina da, et alli. Op.cit. p.31.),
...de momento, a Contabilidade Social apresenta ainda
muitas limitações que se explicam pelo seu
estado relativamente embrionário (convém
notar que a Contabilidade Financeira vem evoluindo e sofrendo
aperfeiçoamento desde há 5.000 anos, enquanto
que as preocupações com os problemas sociais
só aparecem na década de sessenta). Não
obstante, constitui uma divisão da Contabilidade
que não pode ser ignorada pelos profissionais desta
área científica, em virtude das suas potencialidades
para melhorar significativamente os modelos existentes
de avaliação da eficácia das empresas.
Genericamente,
a Contabilidade Social visa criar um sistema capaz de
inventariar, classificar, registrar, demonstrar, avaliar
e explicar os dados sobre a atividade social e ambiental
da entidade, de modo que no final de cada exercício
ou a qualquer momento se possa preparar informes como
o Balanço Social e a Demonstração
do Valor Adicionado.
3.
O BALANÇO SOCIAL
Como
visualizado na figura 2, o Balanço Social é
uma demonstração que pode ser classificada
como o produto mais significativo da Contabilidade Social,
porém ainda não encontrou sua maturidade
metodológica, como é possível comprovar-se
em algumas pesquisas históricas na seqüência
descritas.
Seguindo os resultados das pesquisas realizadas por Tinoco
(TINOCO, João E. P. Balanço Social:
uma abordagem sócio-econômica da contabilidade. São Paulo:
FEA-USP, 1984.p.25.), sabe-se que no início
dos anos 60, por causa da guerra do Vietnam, o governo
Nixon (EUA) e as entidades que o apoiavam foram severamente
criticadas, como acentua o citado autor: Clamava-se
pelo fim da guerra e por outro lado exigia-se que as empresas
adotassem nova postura, moral e ética perante os
cidadãos. Neste momento, exigem-se informações
relativas às relações sociais da
entidade, dentro e fora dela. Assim, surgem as primeiras
informações sociais, que são publicadas
junto com o balanço patrimonial.
Na mesma linha de raciocínio, Carvalho (CARVALHO,
J. Eduardo. O Balanço Social da Empresa: Uma abordagem
sistêmica. Portugal: Editorial Minerva, s/d. p.65.)
pontua que este novo instrumento parece ter sua
origem no EUA, no final dos anos 60, precisamente como
resposta empresarial a um movimento progressivamente contestatório
e imerso na escala de valores peculiar da vida norte-americana,
que chega a pôr em causa o valor das organizações
relativamente ao seu contributo para o meio em que se
insere.
Porém, para A. Lopes de Sá (CARVALHO.op.cit.
1995, p.54.), o Balanço Social representa
a expressão de uma prestação de contas
da empresa à sociedade em face de sua responsabilidade
para com a mesma, e parece ter sido, inicialmente,
desenvolvido na década de 50, embora na Alemanha,
em 1939, a empresa AEG já publicasse tal peça.
Na França, por sua vez, alguns pesquisadores na
década de 70, propuseram-se a reunir e comentar
dados estatísticos correntes, uma vez que perceberam
que com este trabalho a abordagem dos problemas sócio-econômicos
da nação, como por exemplo, a relação
do emprego, a mobilidade social e a utilização
do lucro se traduziam com mais propriedade. Assim, a Contabilidade
evoluiu sob a influência de pressões externas
cada vez mais intensas, o que significava uma pressão
social a exigir uma revolução nos procedimentos
contábeis até então aplicados.
Ocorre, que a guerra do Vietnam, os movimentos estudantis
na França e Alemanha, e o aumento dos problemas
sociais fazem com que as iniciativas se multipliquem,
iniciando-se a discussão sobre a responsabilidade
social das organizações e, também,
procurando-se uma forma científica de prestar essas
informações à sociedade. Surge então
a proposta de uma demonstração denominada
genericamente de Balanço Social, ou de social
audit para os norte-americanos, de sozialbilanz
para os alemães e bilan social para
os franceses. São as primeiras manifestações
em países avançados e podem ser caracterizadas
como:
a) Social Audit - (modelo norte- americano) traduzido
em termos monetários, como quantificador de vantagens
e prejuízos sociais, e visando completar futuramente
o balanço financeiro tradicional. Tem como objetivo
cuidar da imagem da empresa;
b) Bilan Social - proposta francesa que deu origem à
lei 77.769 de 12/07/1977, baseada na idéia de conciliação
com os trabalhadores;
c) Die Sozialbilanz - estilo alemão que tenta sintetizar
os dois modelos existentes (americano e francês).
Os portugueses também aderiram ao Balanço
Social, tornando-o obrigatório por meio da regulamentação
expressa na Lei 141 de 14 de novembro de 1985, que teve
suporte no projeto da ex-ASDI (Acção Social-Democrata
Independente).
São características desta lei: a) obrigatoriedade
de apresentação para todas as empresas públicas
e para as empresas privadas com mais de cem empregados;
b) as informações atendem basicamente a
área de recursos humanos; e, c) a apresentação
do Balanço Social dá-se sob a forma de formulário
a ser preenchido pelas empresas que se enquadram nas condições
exigidas pela legislação.
A forma portuguesa foi bastante questionada e criticada,
principalmente, pela Confederação da Indústria
Portuguesa, que a considerava inoportuna, desajustada
das realidades e gravemente atentatória dos interesses
econômicos do País (CARVALHO.op.
cit. p. 117.).
Tal reação poderia ser esperada uma vez
que o Balanço Social português restringe-se
ao preenchimento do formulário anexo à lei,
englobando uma série de dados sobre a situação
dos recursos humanos da entidade e nada mais.
Observa-se que, na Alemanha a Shell, a Bertelsman e a
Hoechst; na França a Savien, a Renault e a Siger;
nos EUA a Exon; a Mygros na Suíça; no Chile
as Manufaturas de Cobre S.A - MADECO, a Asociación
Chilena de Seguridad, SAACOL & CODIGAS, entre outras,
são exemplos de empresas que estudam e publicam
Balanços Sociais, que servem de suporte aos novos
estudos e descobertas de novas abordagens. Todavia, é
importante realçar que a adoção desses
novos modelos implica na sua adaptação à
realidade local, sob pena de não serem atendidos
os interesses dos usuários internos e externos,
que têm suas peculiaridades e objetivos diferenciados
em relação aos usuários dos países
citados.
Conceito
de Balanço Social
Este
trabalho tem como premissa e aceita como conceito a designação
de que: o Balanço Social representa a demonstração
dos gastos e das influências (favoráveis
e desfavoráveis) recebidas e transmitidas pelas
entidades na promoção humana, social e ecológica.
Sendo que, os efeitos dessa interação dirigem-se
aos gestores, aos empregados e a comunidade, no espaço
temporal passado/presente/futuro, tornando-se parte integrante
da Contabilidade Social, configurando-se numa demonstração
para a sociedade e não da sociedade.
Relevância
da demonstração
As
novas exigências do mercado, influenciado
pela globalização, por um público
mais consciente e por investidores mais exigentes e preparados,
têm feito com que as organizações
publiquem suas demonstrações com maior transparência
e qualidade, evidenciando os aspectos qualitativos do
patrimônio e, ao mesmo tempo, a sua preocupação
com o bem estar social e ambiental. Este ponto de vista
é o mesmo de Antonio Castilla Perez (PEREZ,
Antonio Castilla. La profesión contable hoy y a futuro.
Revista Brasileira de Contabilidade. Brasília: a.26, n.
103, jan./fev. 97p. 64.), ao afirmar que ...
se está creando conciencia que desarrollo
económico y protección del medio
ambiente están estrechamente vinculados y,
que en largo plazo no puede existir uno sin el outro.
Para demonstrar a importância do Balanço
Social, Posada e Ramirez (GONÇALVES,
Ernesto Lima (Coord.). Balanço Social da Empresa na América
Latina. São Paulo: Pioneira, 1980, p.12. p.7.),
no livro Balanço Social da Empresa na América
Latina, afirmam que com o tempo, ocorrerá
o que hoje se passa com a Contabilidade: ninguém
pensa que possa haver uma empresa sem Contabilidade, porém,
todos vemos que a Contabilidade não é toda
empresa.
O Balanço Social, antes de ser uma demonstração
endereçada à sociedade, é considerada
uma ferramenta gerencial, pois reúne dados qualitativos
e quantitativos sobre as políticas administrativas,
sobre as relações entidade/ambiente e outros,
os quais poderão ser comparados e analisados de
acordo com as necessidades dos usuários internos,
servindo como instrumento de controle e de auxilio para
a tomada de decisões e adoção de
estratégias.
Metodologia
de apresentação do Balanço Social
A
proposta a ser apresentada tem como premissas básicas:
(1) representar as demandas/interesses dos usuários;
(2) demonstrar as influências, favoráveis
e desfavoráveis, recebidas e transmitidas pelas
entidades, na concepção sistêmica
que a une com a sociedade; e, (3) basear-se no espaço
temporal passado/presente/futuro.
Sugere-se assim, como espinha dorsal do Balanço
Social os sete tópicos a seguir.
-
Apresentação da entidade;
-
Demonstração das influências, favoráveis
e desfavoráveis transferidas para o ambiente
endógeno e exógeno;
-
Demonstração das influências, favoráveis
e desfavoráveis recebidas do ambiente endógeno
e exógeno;
-
Demonstração do valor adicionado;
-
Desenvolvimento de projetos futuros de impacto social
e ambiental;
-
Indicadores de qualidade; e,
-
Outras observações e informações
relevantes.
No
entanto, observa-se que a Demonstração do
Valor Adicionado encontra-se associada à esta estrutura,
porém reconhece-se a sua autonomia, como demonstração
que tem caraterísticas próprias, podendo
ser divulgada em separado do Balanço Social, até
por ter enfoque quase que exclusivamente econômico.
Na verdade, os tópicos, sugeridos para a construção
do Balanço Social, poderão ser modificados
(ampliados/reduzidos) de acordo com a realidade da entidade.
Cabe ao grupo responsável pela preparação
e elaboração estudar e escolher a melhor
forma de apresentação, ou seja, poderão
ser divulgados os dados em forma de indicadores, de gráficos
representativos, de valores monetários, de descrições,
entre outras possibilidades.
A proposta tem a intenção de aglomerar algumas
das informações consideradas fundamentais,
para caracterização do Balanço Social,
não discutindo detalhes da apresentação.
Observa-se ainda, que a demonstração de
informações consideradas negativas não
constitui prática comum entre os balanços
divulgados. Entende-se porém, que o Balanço
Social por representar o conjunto de influências,
recebidas e transmitidas, na relação da
entidade/sociedade congrega informações
favoráveis e desfavoráveis, sendo de vital
importância seu estudo e divulgação,
tanto internamente, como um instrumento gerencial, quanto
externamente por apresentar para a sociedade alguns informes
sobre a realidade organizacional.
Muitos administradores podem ficar com receio de divulgar
indicadores que demonstrem fraquezas organizacionais,
porém cabe diagnosticar tais eventos e procurar
solucionar ou prevenir novas ocorrências desfavoráveis.
Assim, no Balanço Social, seria possível
apresentar indicadores como absenteísmo, número
de acidentes de trabalho, multas, número de reclamações
de clientes e outros, numa forma evolutiva, ou seja, demonstrando
que a entidade preocupada com tais influências vem
desencadeando ações com a intenção
de reverter e/ou melhorar esse cenário.
Mais uma vez, o Balanço Social, bem preparado pela
entidade poderá demonstrar para a sociedade sua
preocupação e sua responsabilidade social/ecológica,
buscando aprimorar continuamente seu relacionamento com
o ambiente interno e externo, mesmo sabendo que continua
a exercer influências desfavoráveis, mas
com o objetivo de sanar gradualmente tais reflexos, com
o apoio do quadro funcional e da sociedade envolvida,
não escondendo tais ações, mas procurando
debate-las e melhorá-las.
4.TENDÊNCIA
DAS INFORMAÇÕES CONTÁBEIS
A
informação é a transformação
dos dados, em forma e conteúdo apropriados, para
uso particular (determinado), ou seja, é uma resultante
dos dados processados de maneira que tenham significado
ao receptor, alterando as suas expectativas e/ou a sua
visão em relação as alternativas
disponíveis.
Em termos contábeis objetiva-se aprimorar o atual
sistema informativo, gerando informação
com qualidade, na plenitude do conceito apresentado. Para
tal, se faz necessário preparar o sistema com base
nas doutrinas e nas necessidades do usuário.
Reforçando, a informação com qualidade
é a que causa surpresa ao usuário; é
esperada e desejada; serve de base para avaliar a situação,
abrindo um leque de alternativas, fornecendo maior confiabilidade
e segurança ao processo de tomada de decisão.
Porém, acrescenta-se, que a qualidade da informação
depende da confiança do usuário no sistema
que a gerou.
Sem embargo, observa-se que o processo de busca da informação
ideal requer uma série de requisitos, para que
a mesma tenha valor, ou seja, na tomada de decisão
o valor da informação está associado
ao seu custo e utilidade. Ou ainda, a relevância
da informação é muito subjetiva,
pois sua utilização é singularizada
para cada usuário.
Assim, o sistema contábil que é, na realidade,
um grande acumulador de dados e gerador de informações,
representa um instrumento justo de apoio a gestão,
mas que nas mãos de pessoas não justas poderá
ser um instrumento não justo, oferecendo perigo
para a sociedade e para a entidade.
A atual composição do sistema de informação
contábil merece reformulações, agregando
ao grupo de demonstrações financeiras já
divulgadas, outras de caráter social e ecológico,
sendo uma destas o denominado Balanço Social.
No Brasil, a Comissão de Valores Mobiliários
(CVM) apoia e incentiva a divulgação do
Balanço Social e, devido a importância e
ao crescente interesse sobre o tema, resolveu não
emitir qualquer ato normativo obrigando a elaboração
e divulgação dessa demonstração,
transferindo o debate para o Congresso Nacional, onde
o assunto terá uma abordagem mais ampla.
Entretanto, a CVM proporá a inclusão da
divulgação de informações
de natureza social, no anteprojeto da reformulação
da Lei 6.404/76, além da Demonstração
do Valor Adicionado.
Quanto a imposição legal da demonstração
do Balanço Social, acredita-se pelos estudos e
pesquisas realizadas, que a obrigatoriedade não
contribui efetivamente para a evolução da
responsabilidade social e ecológica das entidades,
sendo recomendável demonstrar a relevância
de sua preparação e divulgação,
aos administradores e demais usuários.
EXPRESSÕES
FINAIS
Observando
o contexto conclui-se, efetivamente, que o mundo está
interconectado e que as decisões administrativas
tomadas no presente podem ter influência tanto na
organização (internamente), quanto no ambiente
externo. Disto resulta a necessidade de manter a sociedade
informada das políticas organizacionais que podem
influenciar os rumos da aldeia global.
Existe uma interação indissociável
entre a entidade e a sociedade e, esta interdependência
provoca influências, intencionais ou não,
para com ambas.
Neste sentido, a Ciência Contábil pode contribuir
de maneira significativa, desenvolvendo estudos e preparando
demonstrações contábeis que contenham
informações sociais e ecológicas,
provenientes da mutação da riqueza individualizada.
É possível em Contabilidade, realizar estudos
das relações ambientais do patrimônio
organizacional para que possam ser gerados informes úteis,
que por sua vez, produzam demonstrações
com visões sociais.
Entretanto, a uniformidade e a coerência das práticas
de Contabilidade Social entre as entidades, só
serão alcançadas à medida que a experimentação
e a divulgação das experiências forem
permitindo definir princípios e regras, objetivos
e procedimentos para medir, divulgar e interpretar a informação
sócio/ecológica produzida.
Por conseqüência, a maturidade metodológica
e doutrinária da demonstração Balanço
Social acompanha a conclusão anterior, sendo que
em sua fase inicial de desenvolvimento, não será
certamente desejável a imposição
de um modelo único, seja por regiões, por
espécie de organizações, por setores
de atividade ou por qualquer outra classificação.
É certo que a definição de modelos
similares poderiam ter utilidade imediata, na medida em
que é lógico supor que entidades com mesmas
características enfrentam situações
semelhantes.
Conclusivamente, cumpre a comunidade acadêmica e
as entidades ajustarem-se aos novos cenários e
tendências, objetivando aperfeiçoar continuamente
as bases culturais e doutrinárias da ciência
contábil, aprimorando a concepção
utilitária e teórica de tal área
do conhecimento, em benefício de seus usuários
(internos e externo).
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*Contador.
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